domingo, 15 de maio de 2011

Uma viagem ao mundo da reciclagem


Foto: Uma viagem ao mundo da reciclagem

Entidade de Guarujá mostra que é possível ajudar o planeta a partir dos conceitos conhecer, separar e doar


Entrar na sede da Cooperativa de Beneficiamento de Materiais Recicláveis e Educação (Cooperben), em Guarujá, é fazer uma viagem ao fantástico mundo da reciclagem. No meio de montanhas e mais montanhas de lixo limpo, a máxima do químico francês Antoine Lavoisier: "na natureza, nada se cria, nada se perde, tudo se transforma".


Carcaças de antigos computadores dos anos 1990, pedaços de parachoques de veículos e jornais. Tudo aquilo que as pessoas jogam fora sem grandes reflexões ­ em suas casas, seus trabalhos e suas vidas ­ vira um tesouro nas mãos dos cooperados.


O projeto Reciclar é Ganhar, que deu origem à organização, começou em 2001. "Percebemos que as pessoas contribuiam pouco com a reciclagem por não saber como ou por ter dúvidas sobre o processo", contou o fundador Marcelo Silva de Mello.


O intuito inicial era mostrar que é possível ajudar o planeta a partir de três conceitos: conhecer, separar e doar. Assim, o impacto do lixo que se produz diariamentepode ser minimizado. Apesar de ter nascido no Guarujá, a entidade procura ampliar sua área de atuação para os demais municípios da Baixada Santista. "Trocamos muitas informações e experiências com as outras cidades para aglutinar a cadeia de reciclagem para a coletividade dentro de um projeto único".


Entre os objetivos da iniciativa, estão a educação ambiental em condomínios, escolas, igrejas e empresas, a capacitação de catadores, a parceria com ferros-velhos da cidade (para separar o que pode ser reciclado) e o contato com a indústria, que compra tudo o que pode voltar a ter vida útil em uma nova versão.


A Cooperben se encarrega de toda a cadeia produtiva de reaproveitamento: desde a coleta até venda do material para indústrias. Depois de recolhido, o lixo é separado e compactado antes de ser moido e encaminhado para as indústrias, que o utilizam na produção.


CRISE


Atualmente, 15 pessoas traba- lham na cooperativa - todos passam por um treinamento prévio. "Procuramos levar um pouco mais de dignidade para trabalha com o lixo, mas infelizmente, é uma área nova, quase invisível para a sociedade ", diz Marcelo.


A crise econômica atual mexeu profundamente com o mercado da reciclagem. O preço do material para venda caiu e, consequentemente, a renda dos catadores e cooperados.


Para o futuro, a Cooperben planeja criar a primeira usina de reciclagem da Baixada Santista. Embora saiba que trata-se de uma ideia ambiciosa, Marcelo está confiante no sucesso. "Estamos procurando parceiros no setores público e privado".


ONDE MENOS SE ESPERA


O que muita gente não sabe é que o plástico reaproveitado, carro-chefe da Cooperben, aparece em vários aspectos do dia a dia, como no balde em que se lava a roupa e no painel dos carros novos. "A maior parte do que chamamos de `cadeia do 1,99´ (uma referência às lojas populares que vendem grande variedade de plásticos)vem da reciclagem". A indústria textil também dá novas formas ao plástico. Camisetas confeccionadas a partir das fibras do poliéster presente nas garrafas PET já são uma realidade. Na região, equipes de futebol e grupos que participam de provas esportivas já aprovaram o produto, que além de ser ecologicamente correto, não absorve o suor.


Metade do material que se joga fora pode ser reutilizado

Desde o início das atividades do projeto, 1.448.447 quilos de materiais foram coletados e enviados para as indústrias. O mais importante é que tudo isso deixou de ir para um aterro sanitário.


Metade daquilo que uma pessoa joga fora diariamente pode ser utilizado novamente e a outra metade são resíduos orgânicos. Segundo Marcelo, um indivíduo produz, em média, pouco maisdeumquilodelixopordia.


Reciclar não serve somente para girar as engrenagens da cadeia produtiva. Quando se consome menos e se reaproveita mais, os benefícios vão além: diminuição da extração de recursos naturais, menor gasto de energia e melhoria na qualidade de vida nos centros urbanos por meio da limpeza.


O Brasil está longe de atingir todo o seu potencial de reciclagem. O país desperdiça, a cada ano, R$ 4,6 bilhões por não reaproveitar tudo o que poderia. Apesar de ser considerado um grande mercado para o alumínio, materiais como vidro, o plástico, latas de ferro e pneus apresentam um índice baixíssimo de reciclagem.


A participação da comunidade representa um elo fundamental da corrente. Mostrar as várias encarnações do lixo ao criar uma consciência ambiental em crianças, jovens, adultos e idosos foi a forma como a entidade encontrou de, nas palavras de Marcelo, "transformar um problema em solução".


Ajude


Para facilitar a reciclagem, os consumidores podem separar seu lixo entre as diferentes categorias (vidro, papel, plástico e metal) e limpar os itens para impedir que a sucata se misture e se contamine com o resto dos alimentos. Dessa forma, os materiais têm maior chance de reaproveitamento pela indústria.


Única no Brasil

A Cooperben é a pioneira nacional na coleta do gás R-12, utilizado em geladeiras e ar-condicionados. Com uma máquina importada da Alemanha, eles recebem os equipamentos dos ferros-velhos e retiram com segurança o elemento gasoso antes de encaminhá-lo de volta à indústria.


Perfil

Reciclar é ganhar
Da Cooperativa de Beneficiamento de Materiais Recicláveis e Educação (Cooperben)
O que faz: promove ações educativas sobre reciclagem de lixo
Desde quando: 2001
Endereço: Rua Santo Antônio, 136, Vila São Miguel, Guarujá
Telefones: 3354-1177/ 3017-2353
E-mail: cooperben@ig.com.br
Site: http://cooperben.blogspot.com/


Autor: Flávia Saad

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